domingo, 16 de janeiro de 2011

O apartamento de Conakry e os morcegos


Depois de duas trocas de hotéis em duas semanas, estou finalmente instalado no apartamento no qual vou ficar definitivamente... pelo menos essa é a ideia.

O bairro é o melhor de Conakry, perto das embaixadas, onde se encontram os melhores prédios. Por mais pobre que seja o país, sempre tem uma turma endinheirada. 

O apartamento é de alto padrão, sala ampla, vista pro mar, três suítes, cozinha ampla e varanda. Nada pra reclamar. O melhor de tudo é que eu pago R$ 0,00 , todas as despesas são da empresa.
Algumas fotos do apartamento:


a sala com a varanda no fundo


a cozinha



o banheiro do quarto


o quarto


Apesar de ser um apartamento de alto padrão, existem alguns detalhes no acabamento e no projeto do prédio que são bizarros. No meu banheiro há uma janela que dá pro nada, ou melhor dá para uma parede de concreto com um cano passando de cima a baixo. Além disso a janela das escadas do prédio também dão pra uma parede de concreto a 10 cm de distância. Pra completar o lavabo da sala também tem uma dessas janelas para o cimento. Na cozinha o acabamento do armário deixou um” leve” espaço entre as portas. Coisas que no Brasil não seriam aceitas pra apartamentos de classe A. Mas no final das contas isso são frescuras que não me afetam em nada, e como diz o velho ditado ”cavalo dado não se olhas os dentes”. Só achei pertinente remarcar como o nível de exigência para as coisas de qualidade daqui é mais baixo.  De toda forma não posso reclamar de forma alguma. Seguem fotos:

O acamento do armário da cozinha. Um espacinho pra ventilação. 


janela para o cimento no. 1, nas escadas do prédio

janela para o cimento no. 2, no lavabo da sala


janela para o cimento no. 3, no meu banheiro (com um cano que me deixa informado sobre os hábitos dos vizinhos de cima)


 
Conakry tem uma espessa camada de vapor que está instalada na cidade desde que cheguei. Isso impede de aproveitar a vista pro mar, que não dá pra ver mais que 100m de mar adentro. Acho que é coisa da estação. Lá pra setembro começa a época das chuvas, e espero que elas deem uma limpada na vista. 

a morcegada...

Todos os dias, lá pelas 18h, passa em frente à varanda um gigantesco bando de morcegos, ou uma morcegada, muito grande. São milhões. Parece que estão migrando pra algum lugar para iniciarem suas atividades noturnas. Ficam passando milhões deles por mais de uma hora, bem em frente à varanda do apartamento. Filmei o fenômeno, espero que dê pra ver direito. Sugiro ver o vídeo  em tela inteira e sem som, pois há muito ruído (do ar condicionado da varanda, não dos morcegos).



Ainda não deu pra desbravar a cidade neste domingo, a semana foi intensa e queria descansar. Além disso não há transporte público em Conakry, por isso qualquer passeio exige um nível de energia maior do que eu tinha hoje. Mas muitos finais de semana estão por vir, não há pressa.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Alguns milhões na gaveta

Aqui na Guiné a moeda se chama Franco Guineense. Criada em 1960, dois anos após a independência do país em relação à França, permanece a mesma. Acontece que dos últimos 50 anos pra cá, a inflação não poupou o país. De forma que 1 Franco Guineense hoje vale cerca de R$ 0,00022. Isso quer dizer que 1.000 Francos Guineenses valem cerca de R$ 0,22. Isso mesmo, mil Francos Guineenses é igual a vinte e dois centavos de real. A maior nota do país é a de 10.000 Francos Guineenses, ou seja, é como se a maior nota do Brasil fosse a de R2,00. Isso rende algumas situações inusitadas. Depois de ir a um restaurante por aqui e pagar 100.000 por uma conta, é bom  que se pague com uns 10 minutos de antecedência se estiver com pressa, pois a garçonete vai gastar no mínimo esse tempo para contar o pacote de notas que acaba de receber.

Por aqui, pra ir num restaurante é preciso levar um pacote de dinheiro. Cartão de crédito é sinônimo de piada ou fantasia lunática. Existe um só caixa eletrônico do país inteiro, mas ninguém tem certeza se funciona. Por isso, os pagamentos dessas coisas é sempre em espécie, "cash". De forma tal que é normal carregar um pacote ou envelope embaixo do braço com alguns milhões em dinheiro. Ninguém liga, é normal por aqui. 

Segue uma foto de 85 milhões de francos guineenses (uns R$ 15 mil). Uma pilha de dinheiro que se fosse no Brasil estaria em um carro forte:

 
Um montinho de 85 milhões




 As maiores notas da Guiné: 10.000 Francos, 5.000 Francos e 1.000 Francos... o equivalente a R$ 2,00 , R$ 1,00 e R$ 0,20 respectivamente.


Cortar uns zerinhos seria conveniente por aqui. Alguma remota lembrança dos planos cruzeiros/cruzados? A Guiné parece me levar a alguns anos atrás no Brasil, época da inflação, da falta de combustível e da desordem característica dos anos caóticos pós-ditadura militar. Exatamente como os tempos pós-militares daqui que começaram há 20 dias. 

Assim como no Brasil, aqui também não foi preciso uma revolução violenta e armada para a tomada de poder sobre os ditadores... O tempo mostrou simplesmente que, militares são treinados pra guerra, não para gestão pública/financeira. Eles simplesmente perderam a moral por aqui. de tanta lambança que fizeram. Como aconteceu no Brasil. 

A Guiné é uma de uma maneira ou de outra uma viagem ao tempo para um brasileiro como eu, que enxerga esse país como um filme 8mm de uma época do Brasil que ficou pra trás, mas que eu ainda consigo me lembrar.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Mais um pouco de Conakry

Já faz quase uma semana desde que cheguei à Guiné.  Já mudei de hotel e amanhã estou de mudança de novo, para o meu apartamento definitivo. Ainda não tem internet, mas deve ser instalada já na semana que vem. Porém isso é África e planejamentos nunca são confiáveis. Portanto, não sei quando poderei postar de novo, no máximo dentro de uma semana, espero. Já deu pra perceber que manter o blog vai ser uma das maneiras de manter a sanidade por aqui. 

Durante essa semana eu basicamente fiz só uma coisa: trabalhar. Dei algumas caminhadas para o restaurante onde costumo almoçar, e basicamente foi isso. Mas de toda forma já deu pra absorver algumas coisas. Aqui em Conakry se faz muito calor e o caminho para o restaurante, que faço a pé, que são no máximo 500m vira uma verdadeira via sacra. Fora o calor, a cidade é muito movimentada, as calçadas são tomadas por barraquinhas e pessoas, por isso é preciso andar no meio da rua. Há ambulantes, mendigos, bêbados, policiais que te batem continência, motoristas que andam com a buzina pressionada, pedintes, moradores de rua, lojas de sofás a céu aberto no meio da rua (sim, desse jeito) e otras cositas más. Isso tudo transforma essa caminhada numa experiência sudorípara e faz parecer que andei 10 km. Conakry é intensa. 

Quanto ao trabalho, é assunto extenso e prefiro não tratar dele no blog, mas algumas coisas interessantes vão surgir. Um dos projetos que vou ver de perto neste emprego é a construção (na verdade reconstrução) de uma ferrovia que atravessa o país, e tem seu km 0 no olho do furacão de Conakry. Os antigos trilhos cortam a cidade ao meio, porém o detalhe é que toda a extensão da ferrovia desativada está tomada por feiras, casas, pessoas, abrigos, campos de futebol e etc. Vai ser no mínimo interessante acompanhar esse processo de reforma da ferrovia, que aos meus olhos, parece uma missão completamente impossível. Só o tempo dirá.

Voltando ao cotidiano, pude observar que por aqui há muitos libaneses. Eles dominam todos os tipos de comércio da cidade: hotéis, vendas de móveis, lojas de informática e etc. É possível ver muitos deles por aqui, e geralmente pertencem à classe mais abastada da cidade. Isso foi uma surpresa pra mim, que pensava que ninguém ainda tinha se aventurado de fato num país tão instável aos negócios. Estava errado. 

Ainda há muita muita coisa pra se ver em Conakry, não vi nada ainda. Há mercados a visitar, lugares pra conhecer e histórias pra acontecerem. Conforme o trabalho for caminhando, o tempo livre esporádico aparecerá, e não perderei tempo pra desbravar um pouco. 

Já estou em outro hotel, mas envio algumas fotos tiradas da janela de onde estava antes. Amanhã me mudo para o apartamento, que também tem vista pro mar, o que pode me garantir algumas boas fotos, por enquanto que não posso fotografar as ruas. 

 Porto de Conakry


 Transporte de piroga até a Ilha de Los


 Barco de pescadores com vela remendada

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Conakry, primeiras impressões

Cheguei apenas há dois dias, e desde então não tive muito tempo de fazer muita coisa a não ser trabalhar. Hotel – escritório – hotel, foi o que deu tempo de fazer. Mês que vem já devo me mudar pro apartamento, enquanto isso fico no hotel. ai uma foto da vista da minha janela:


Oceano Atlântico visto do outro lado

O que pude ver por enquanto foi da janela do carro e de umas brevíssimas caminhadas pelas ruas. Já deu pra perceber que o caos na cidade é maior do que eu já imaginava. Nas ruas há muita, muita gente caminhando pra cima e pra baixo, sem destino aparente, apenas caminhando. Deu pra perceber que falta trabalho, pois a quantidade de gente desocupada, sem fazer nada, é enorme. Dá pra notar a pobreza do país também. Há muito lixo nas ruas, figuras bizarríssimas circulando por todo lado. A cidade inteira parece uma mistura de uma gigantesca feira popular com crackolândia.  Não existe sinal de trânsito, nem capacete para motociclistas, tampouco mão ou contramão nas vias. Existem sim muitos carros, acompanhados de muitas buzinas e inacreditáveis atos de imprudência no volante. As vans de transporte popular são surreais, parecem que foram queimadas e depredadas em 1908 e depois vendidas pros perueiros daqui. E dentro delas vão 30 pessoas, sem contar as que vão no teto e penduradas nas portas traseiras (que são na verdade um buraco na parte de trás da van, pois as portas mesmo já não existem mais).

Dá a impressão que todas as pessoas do país moram na beira das rodovias, há milhares delas. E lá mesmo vivem suas vidas: tomam banho, lavam roupa, cozinham, fazem suas necessidades, casais saem nos tapas... é uma cena bizarra atrás da outra.  Tudo isso é fascinante. 

As mulheres usam roupas muito coloridas com turbantes também coloridos. Amarram seus filhos às costas, com um pano que enrola a mãe e o bebê. 

No final de semana é possível que dê pra ver as coisas com mais calma, por enquanto já percebi que vou ter muito trabalho e terei que me dedicar exclusivamente a ele. Como tenho muito tempo pela frente, não tenho pressa. 

Tirar fotos aparentemente vai ser uma tarefa nada fácil. Por aqui fotografar qualquer monumento público é proibido e, dada a quantidade de militares nas ruas, mostra-se uma atividade que vai exigir discrição. Antes de começar a postar fotos vou observar melhor o lugar e entender melhor como funciona. Todos foram muito simpáticos até agora e por isso espero que no futuro, com uma boa conversa, eu consiga usar a câmera. 

Vou tentar filmar algumas cenas da rua de dentro do carro a caminho do trabalho, porém a internet temperamental daqui vai ter q estar de muito bom humor até que eu consiga fazer upload do vídeo (precisei de mais de 2h pra conseguir publicar este simples post). De toda forma, vou me esforçar, as imagens das ruas daqui são impagáveis. 

Em resumo, tudo está correndo muito bem, acho que vou me divertir muito por aqui. Histórias pra contar não vão faltar, apesar de nem sempre poder publicar imagens pelos motivos explicados acima. 

Continuem acompanhando. 

Este é apenas meu primeiro post de muitos diretamente de Conakry.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Lá vou eu!



Chegou a hora, parto pra Conakry de manhã bem cedo. Este horário amanhã já estarei em terras africanas... 

Sei muito pouca coisa sobre como vai ser a rotina, a cidade, o trabalho... Tudo vai ser novidade. Tentarei atualizar o blog o mais rápido possível, mas claro, vai depender de conexão de internet, eletricidade e outras necessidades básicas da civilização moderna. 

Parto cheio de vontade e curiosidade, certo de que muitas histórias e causos bons e bizarros surgirão apartir de amanhã. 

Desejem-me boa sorte e acompanhem o blog.

Aquele abraço pra quem fica!

Fui! 

OBS: 2011 promete...